A fundação do povoado
Poder-se-ia afirmar que a Sobreira nasceu no castro ("castelo" lhe chama o povo) que tem assento nas suas proximidades, se conseguíssemos provar, depois, que o povoado medieval ou moderno proveio daquele - operação que, em boa verdade, se nos afigura mais do que difícil, impossível.
Deixemos, pois, o povoado castrejo e passemos à Sobreira medieval. É acerca dela que perguntamos: Quem a fundou? Em que data o fez? Como? Com que fins?
Não sabemos quem fundou a povoação da Sobreira; muito menos em que circunstâncias o fez. O que sabemos é que, em 1530, por ocasião do primeiro censo efectuado em Portugal, o povoado contava apenas com dois moradores (fogos). Uma simples quinta, por conseguinte.
Este dado poder-nos-ia levar a pensar, à primeira vista, numa fundação moderna (séc. XV ou XVI). Todavia, a evolução demográfica, prenhe de altos e de baixos, por um lado, e o facto de as inquirições de 1258 já nos falarem da Sobreira ("Sobreiro", no original; por lapso, evidentemente), por outro, levam-nos a suster um juízo menos ponderado.
Será, então, que o lugar já existia em 1258, no tempo do rei D. Afonso III? Cremos que sim, ainda que a resposta seja difícil, porquanto a palavra "villa", que o documento usa para a denominar, tenha, nessa altura, um significado bastante vago, podendo significar um prédio ou um conjunto de prédios rurais, dotado(s) ou não dum núcleo habitacional.
Ainda segundo essas inquirições, a vila rural da Sobreira pertencera, antigamente, ao rei (D. Sancho 1? D. Afonso Henriques?), mas fora, de seguida, indevidamente deixada ao abade murcense D. Mem Gonçalves pelo seu pai, que morava nela e no Candedo; este, por sua morte, legara-a, finalmente, à igreja de Santiago de Murça, no tempo de D. Sancho II (1223-1238).
Sendo assim, é provável que tenha sido um dos nossos primeiros monarcas, ou algum dos seus delegados, o primeiro a levar a peito o cultivo e, talvez, também, o (re)povoamento dessa vila rural ("villa").